29 de setembro de 2009

Briga (virtual) de bar pode parar na Justiça

EDUARDO ZANELATO - 25/09/2009 - 19:25

Moderadores do blog Resenha em 6 podem ser processados pelo Boteco São Bento caso não retirem comentários

 Divulgação
Fachada do Boteco São Bento

A internet revolucionou a maneira como nos comunicamos, para o bem e para o mal - neste caso, algumas histórias antes inimagináveis acabam tomando uma proporção maior do que se espera e do que merecem. É o caso da contenda criada, involuntariamente, entre o blog Resenha em 6 e o Boteco São Bento, bar da Vila Madalena. O site, uma brincadeira para os amigos Bruno Garattoni, Juliano Barreto e Fernando Badô, se propõe a resenhar “sem enrolação e em seis linhas ou menos”, CDs, DVDs, livros, shows, botecos, restaurantes e programas de TV. Os criadores do Resenha em 6 ainda publicam as opiniões de amigos convidados a postar suas impressões a respeito do que assistem e experimentam na cidade.

Como se trata de um site sem pretensões jornalísticas, os textos ali publicados fogem à linguagem formal e incluem termos chulos e palavrões. Foi nesse tom que o publicitário Raphael Quatrocci postou suas impressões do Boteco São Bento. Em seis linhas, definiu o bar da seguinte maneira: “Depois da Faixa de Gaza e do Acre, este é o pior lugar do mundo para você ir com os amigos. Caro, petiscos sem graça e, principalmente, garçons ultra-power-mega chatos: você toma dois dedos do seu chopp, quente e azedo que nem x***** nos tempos dos vikings, eles já colocam outro na mesa. E se você recusa, eles ainda ficam putos. Só tulipadas diárias no rabo para justificar tamanha simpatia no atendimento”.

A opinião foi publicada no domingo (20) e até terça-feira (22), não havia chamado atenção dos 450 leitores que costumam visitar o site diariamente. A despeito dos termos chulos, não há nada no texto que mereça ser alvo de polêmica. Até que surgiu um comentário postado por Jonas Steinmayer, identificando-se como funcionário da administração do Boteco São Bento. Além de lamentar o tom depreciativo, encerrava o comentário dizendo: “Estamos tomando as devidas providências em relação a esse blog”.

O tom enigmático da última frase foi entendido como uma afronta à liberdade de expressão e os internautas se revoltaram com o estabelecimento. Houve pico de acessos ao blog. Em vez dos 450 acessos diários, foram registradas oito mil visitas na quarta-feira (23). Os comentários, até o fechamento dessa reportagem, passavam de 500.

Dada a repercussão, os donos do bar divulgaram por meio de sua assessoria de imprensa, um comunicado oficial lamentando o ocorrido, defendendo a liberdade de expressão e reiterando que não têm responsabilidade pelos comentários postados em nome do estabelecimento. Ainda reforçaram que não há nenhum Jonas Steinmayer em seu quadro de funcionários. Levantaram a ideia, então, de que se tratava de um comentário falso.

Fernando Badô, um dos blogueiros do Resenha em 6, diz estranhar o tom do comentário. “É uma defesa muito feroz”, diz. Ele acredita que o texto pode, sim, ter sido postado por alguém ligado ao bar e que o estabelecimento recuou ante à repercussão que o caso tomou. “Não queremos prejudicar o bar, esse é o ponto. Só demos nossa opinião”, afirma.

Enxurrada de comentários
Mesmo que seja falso, o comentário alavancou críticas negativas ao Boteco São Bento. Além de reclamações escritas, um vídeo feito na casa teve o link compartilhado. Apesar da qualidade ser muito ruim, é possível identificar as vozes de amigos numa mesa do bar reclamando da insistência dos garçons em servirem um chopp atrás do outro.

O comentário de um suposto fornecedor também foi publicado. Nele, o interlocutor cancelava publicamente os contratos que mantinha com o estabelecimento. Diante de tanta dor de cabeça, os donos do Boteco São Bento acionaram seu advogado. “O direito das pessoas se expressarem livremente é legítimo. O problema é que algumas delas se façam passar pelos donos e fornecedores do bar, o que configura falsidade ideológica. Isso será alvo de interpelação jurídica”, afirma Carlos Augusto Pinto Dias, advogado do Grupo.

Segundo Carlos Augusto, os blogueiros receberão uma notificação extra-judicial pedindo a retirada dos comentários postados em nome do bar e de seus parceiros e fornecedores. “Se isso não acontecer, iremos processá-los, pedindo inclusive indenização por danos morais”, afirma.

Fonte: http://revistaepocasp.globo.com/Revista/Epoca/SP/0,,EMI95200-17281,00-BRIGA+VIRTUAL+DE+BAR+PODE+PARAR+NA+JUSTICA.html

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