13 de fevereiro de 2008

Comercialização de canetas financia tratamento para recuperação de viciados em drogas

Os passageiros do transporte coletivo mais utilizado em Salvador são diariamente abordados por ambulantes que ganham a vida com a venda de doces, salgadinhos, adesivos, picolé, água mineral, revistas, entre outros itens que transformam o buzu em um verdadeiro mercado móvel. Entre os mais conhecidos estão os integrantes da Instituição Social Manasses, que vendem canetas coloridas em coletivos por toda a cidade. Apesar da visibilidade desse trabalho, pouca gente sabe que ele existe há mais de 10 anos e que a comercialização nos ônibus é o que torna financeiramente possível o projeto de reintegração de ex-viciados em drogas na sociedade, um dos principais objetivos da instituição.

Os rapazes da Manasses entram pela porta dianteira com a autorização do motorista. Estão sempre fardados e andam geralmente em dupla. Um distribui as canetas entre os passageiros enquanto o outro fala um pouco da história da casa de recuperação e dão seu depoimento pessoal. Pelo sotaque, percebe-se claramente que não são baianos: isso faz parte de um intercâmbio feito entre os internos das várias unidades distribuídas pelas cidades de Salvador (BA), Fortaleza (CE) e Vitória (ES). “Os internos que estão na última fase do tratamento precisam voltar ao convívio com a sociedade e a venda de canetas nos ônibus foi uma forma muito eficiente que encontramos para este fim”, explica Emerson Luiz, diretor da Manasses.

Para alguns passageiros, como a aposentada Clotildes dos Santos, o trabalho da Manasses é “uma boa alternativa para os jovens saírem do mundo das drogas”. Para outros, porém, tudo não passa de uma boa estratégia de marketing. “Dizem que são ex-drogados, sempre chegam usando a palavra de Deus para comover os passageiros e convencê-los a comprar. Afinal, quem não precisa de uma caneta?”, ironiza o representante comercial José Luiz Souza, 50 anos.

Apesar das controvérsias, não há como negar que o tratamento desses jovens de fato acontece e vai desde a desintoxicação até a fase de reintegração com a sociedade. A base espiritual, definida pelo grupo como parte fundamental de sua filosofia, é apoiada em quatro cultos diários realizados dentro da própria sede, onde também acontecem as sessões de terapia para os internos. A entidade atende de 25 a 30 dependentes químicos e/ou alcoólicos e suas famílias, em um período que dura entre nove a 12 meses.

O integrante da Manasses Tagner Diego Santana, de 26 anos, conta que entrou num ônibus e conheceu dois jovens que falavam de Deus e diziam ter se recuperado com a ajuda da Manasses. “Então fui procurar ajuda também. E há seis anos me encontro na Instituição, sou um colaborador da obra e ajudo outros jovens e pais de família a reencontrarem tudo o que eles perderam”, conta.

A instituição é filantrópica e não recebe nenhuma ajuda governamental, sobrevivendo de doações da sociedade, das famílias auxiliadas e da venda de canetas. As doações devem ser feitas no Banco do Brasil, Agência 1193-2, Conta Poupança 11242-9.

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